PEDRA NO LAGO - Maria de Lourdes Scottini Heiden

LAGO DE LUZ

No lago brilhante
Espelhei minha vida...
Castelos de sonhos
Miragens da alma.
Na água colhi.

O  lago da vida
Sorri e  fascina...
São gotículas de luz
Repousando no azul.
São faíscas do sol
Apressando o arrebol.
O  dia se ergue
A  manhã se veste
De amor.
  

APRESENTAÇÃO
  
A  pedra quando cai no lago
desfaz a paz de suas águas.
Agita,  borbulha, faz a vida ressurgir.
Este livro pretende ser uma pedra no lago
de cada um dos leitores...
Chacoalhar, despertar, animar...
Palavras que trazem consigo
a música das águas,
a canção da vida.
Um lago parado não é belo, nem vivo.
Um lago precisa ser agitado
para que a fagulha da vida
seja fecunda.

 DEDICATÓRIA

Dedico este livro ao meu marido,
Roberto Heiden,
Pedra no lago de minha vida,
Aos poetas e artistas
Pedras no lago da sociedade,
Aos  mestres e idealistas
Pedras no lago das comunidades,
Aos  jovens ativistas
Pedras no lago da morosidade,
A todos os saudosistas
Pedras no lago da saudade..

 AGRADECIMENTOS
  
Agradeço  a Deus  a palavra viva
que se transforma em poesia
nas páginas de minha vida.
Agradeço aos amigos,
fonte inesgotável,
de meus versos.
Agradeço à vida
Matéria-prima
Do poeta.

 PEDRA NO LAGO

Quero ser a pedra lançada no lago da tua vida.
Formar ondas concêntricas,
Remexer  tuas feridas,
Bagunçar o teu jardim.

Chega de calmaria!
Basta de acomodação!
Quero ser a pedra  lançada no lago da tua vida.
Romper  os teus estatutos,
Desnudar teu coração,
Agitar teus dias, horas e minutos.

Não te quero estagnado, parado,
Em teu mundo pequeno e sombrio.

Quero-te  firme,   desperto.
Enfrentando as agruras deste teu deserto.
Quero-te  ativo,  vivo,
Cativo da vida que soprei em teu ser...

Mesmo que me olhes, olhar febril,
Mesmo que me odeies, ódio  vão,
Serei uma pedra no lago,
No lago do teu viver.

QUERO SER VENTO

Quero ser vento, vento leve...
Doce  e solto no ar,
Dançar na rua do teu olhar
Valsar nas nuvens do teu pensamento
Apaziguar as tuas cismas,
Sem medo de  coisa nenhuma.

Quero ser vento, vento forte!
Livre e  vagando  no ar..
Sacudir  as folhas do teu jardim,.
Soprar teu mundo  vazio
Vasculhar o teu  ser inquieto,
Para te encontrar em mim.

Quero ser vento, vento  violento...
Voando livre no ar.
Desfazer  os teus alicerces.
Reconstruir o teu ser.
Depois sussurrar  uma prece
E te acalentar.

ÁGUA

Água, princípio de vida
Que rege o planeta
Que canta no rio,
Que  corre veloz
Nas  cascatas de sonhos
Do  meu caminhar.

Água da fonte
Que busca o mar...
Nele se espalha
E me vem despertar.

Água doce, água salgada...
Mistura  poética
Do rio que se perde
Lá dentro do mar.

Nascente  distante
Sempre a recriar
O eterno ir e vir
Da água que não pode parar.

Ser rio, ser mar... Doce, salgado...
Contraste que ao homem ensina
Que a vida, mistério insolúvel,
Não se deixa limitar.
Por mais diferenças que há.

PALMEIRA

Vejo-te  alta... toda garbosa
Bela, forte... tão altaneira!
Toda enfeitada de leques
Abanando o céu e a terra.

És feliz... tenho certeza.
Se uma estrela amarela
Pisca sorrindo no céu,
Sorris  abanando pra ela.

_Boa noite! _Ela te diz.
Ao que respondes também,
Com o sopro do teu leque
E a saudade do teu bem.

O PÁSSARO CANTA
O pássaro canta....
Versos que minha alma  sonha,
Mas  não consegue captar.

O pássaro canta...
Palavras que o homem  devora,
Mas não sabe  vivenciar.

O pássaro canta...
Música  que o coração  ouve
Mas   não  pode  cantar.

O que canta o pássaro?
Canta luz, canta verdade, melodia infinita...
Sons que  transcendem dentro de mim.

O que canta o pássaro?
Canta a vida, canta a morte,
Canta o dia, canta a  noite.

E o seu canto, celestial sinfonia,
Vem acordar minha alma triste
Trazer-me  um pouco de poesia,
Pondo  fim ao domínio
Da noite que em mim habita.

Canta, pássaro, canta...
Quem sabe do teu canto
Nasça um pouco de alegria
Aquietando o meu jardim.

MATÉRIA-PRIMA  DO POETA

De que precisa o poeta?
Qual a sua matéria-prima?

Uma flor tem toque  de magia
Vira verso ritmado e doce
Ao rimar a vida com alegria.

Uma gota de chuva borbulha
Na alma do poeta que  a colhe.
Vira fonte de vida, verso, fagulha!.

O pio de uma ave é canto suave
No coração do poeta sofredor.
Do trinado doce a  poesia nasce,
Desfazendo a sua imensa dor.

Um rio que corre, para longe leva
Sonhos, medos, destinos mil.
Tudo nele escorre... tudo nele segue...
O mar abarca o rio  e o poeta escreve.

Uma estrela  aponta o caminho na imensidão,
Inundada de poesia  se desfaz em versos,
Mostrando  ao poeta o reverso  da  criação.

De que precisa o poeta?
Qual a sua matéria-prima?
A matéria-prima do poeta
Está em tudo  que o cerca.

Matéria-prima do poeta é a vida.

NA JANELA DO POETA

Na janela do poeta
Que mora dentro de mim debrucei-me...
Pus-me a fitar sem medo
As coisas do seu mundo,
Materiais diversos,
Que sempre se transformam em versos
Tocados por suas  mãos de Midas.
Uma luz me inundou,
Um verso  me chamou,
Fazendo brotar em mim a poesia da vida.

UM PÁSSARO CANTOU EM MINHA JANELA

Um pássaro cantou em minha janela
E do seu canto melodioso, colhi
Palavras, versos da alma,
Que ao céu me elevaram
Trazendo-me toda a calma
Que a vida  me negara.

Um pássaro cantou em minha janela
E do seu canto mavioso,  colhi
Poesia,   canções de Deus...
No infinito eu me vi,
Refazendo em meu ser
A aurora que perdi.

O PINTOR

Pega paleta, dispõe as cores...
Ajeita  o cavalete, escolhe os pincéis...
E põe-se a desenhar
O que dentro da alma está.
Uma montanha, um rio correndo no vale,
Um pássaro a voar, uma borboleta amarela...
É o vôo do artista que na pintura se instala,
Confundindo-se com a paisagem da tela..
Mistura o verde, o branco, o azul...
Mais tonalidades... Céu deslumbrante.
Uma flor  exala perfume,
O rio parece borbulhar,
A árvore bela e florida
Traduz toda a beleza da vida
Criando o pintor descobre
Cores, aromas e sonhos.
Na tela da criação.
Ah, pudesse o pintor
Desenhar  seus anseios mais profundos
E com o pincel  afastar a sua dor.
Ah, pudesse o pintor
Desfazer os dramas e colorir a vida.
Depois, obra pronta, olhar encantado,
Ser capaz de passar para o outro lado.
Ah, pudesse o pintor
Com suaves tintas pintar o paraíso
e dele ser um eterno morador!

BLUMENAU

Blumenau da neblina...
Vestida de nuvens
Quando a noite declina.

Blumenau do rio claro...
O meu sono  embala
Pondo luz no que falo.

Blumenau das histórias
Palavras que o vento derrama
Eternizando a memória.

Blumenau, princesa do sul...
Diadema dourado
Desfazendo-se em luz.

Blumenau das canções...
Da festa, do riso,
Unindo os corações.

BEIJA-FLOR

Beija, beija a flor, beija-flor.
E deste beijo doce e suave
Guarde  um pouco de açúcar
Para adocicar este  meu ar tão grave.

Beija, beija a flor, beija-flor
Depois alimentado e feliz
Voe, voe perto de mim
E dê-me um pouco do teu  amor.


O ATO DE ESCREVER

Escrever é tingir a página da vida com tintas mágicas,
Tintas que se transformam em palavras,
Palavras vivas que envolvem  o mundo,
Liberando poesia e luz.
Escrever é  compactuar com o infinito,
Semeando  um pouco  de magia,
Magia que se transforma em sonhos
No  coração do homem aflito.
Escrever é caçar borboletas azuis
Nos jardins  do pensamento humano.
Deixar-se tocar pelo sopro divino
E consumar a obra da criação.

CAMINHO NOVO


Mostrar o rumo, caminho novo,
A quem precisa.
Sentir na alma o doce apelo
E fazer-se amiga.
Em cada rosto...  esperança e medo,
Em cada vida...   sonhos e segredos,
De quem tem fome e sede
De outro eu.

MEDO


Ah, que medo eu tinha!
Das pedras,
Do deserto
Da estrada vazia a minha frente.

O desconhecido me intimidava...
Eram os espectros sombrios
De um mundo a ser desvendado,
Rindo-se em meus desvarios.

Esperança?
Eu tinha.
Queria ser ponte
Derrubar o muro,
Romper as barreiras
E humanizar as pessoas.
Para que a vida  fosse
Uma  coisa boa.

AH, COMO DÓI

Ah, como dói!
Sentir-se impotente...
Pedregulho  na corrente
Da  maré do mundo
Jogado  de cá para lá.

Ah, como dói!
Sentir-se sozinho
Em meio a um deserto,
Deserto de homens.
Perdidos e sós.

Ah, como dói!
Sentir-se pequeno
Nas vagas insanas
Que deixam meu barco
À deriva da vida.

SERES ESPECIAIS

Ser especial é vislumbrar...
Na escuridão,  uma estrela-guia,
No vazio do dia, sorrisos e canções.
Na ironia do sol e da chuva, um arco-íris.
É brindar com o vento, o mar e o infinito
As inúmeras possibilidades de ser feliz.
Ser especial é manter...
Intacto no coração  um eterno olhar de criança .
De quem  sabe de cor a receita da felicidade.
Não pede muito, mas oferece tudo.
Precisa de pouco, mas dá-se por inteiro.
Ensinando ao homem  o que é viver.

TEU OLHAR

Teu olhar é uma vaga inquieta
Desafiando  a brisa,
Tumultuando a calmaria...
Dos meus dias.

Teu olhar é fogo...
Lava  que corre
Força  que encanta
Solidificando o meu mar.

Teu olhar é um tufão varrendo o meu...
Arranca folhas amareladas,
Desfaz  alicerces equivocados,
Reconduz o meu querer
Para as nascentes do amor.
.
Teu olhar  é água revolta em minha boca
Afaga-me, dissolve-me,
Depois se aquieta e dorme
Deleitando-se em minhas ondas.

Teu olhar é...
Céu, inferno,
Brisa e vento,
Verão, inverno,
Terra e mar..


O TEMPO

Quero andar sem pressa
Pois o tempo, este cruel juiz,
Deu  para  me armar laços...
Roubando-me o direito
De olhar uma estrela,
De  cheirar uma flor
De ver o sol surgir,
Espreguiçando-se, docemente,
Sobre  as montanhas de luz.
Mas hoje casso o seu mandato.
E faço meu todo o tempo.
Quero passear pelos campos
E olhar as borboletas azuis.


AMAR... COMO É BOM


Amar, ah amar! Como é bom!
O coração vira cascata.
A alma desata.
A vida vira corrente
De água em direção do  mar

Ah, amar! Como é bom amar!
O coração não escurece
A vida perpetua
O sol eternamente  aquece
E a  sombra se desfaz.

Ah,  amar é tão bom!
Nada nos apavora
Não há tédio. Não há nada!
O coração  se torna terno e eterno
E o universo brinca em nosso olhar.

Ah, amar, é tão bom!
Céu de estrelas, campos floridos, fonte de água...
Eis  o mundo de quem ama!
Tudo é luz, tudo vira chama!
Basta um olhar, um sorriso, um toque,
Que o coração ganha asas
Transformando o mundo num paraíso.
Ah, amar! Amar  é tão bom!


O BOM DO AMOR


O bom do amor é que ele acende a chama
E deixa o coração  em brasas, incendiado.
O bom do amor é que ele nos convida
A partilhar de sua  fonte da vida.

O bom do amor é que ele nos aprisiona
Sem muros ou portões... Sem  cadeados.
As suas armas são bem mais poderosas.
São beijos, abraços e carinhos variados.

O bom do amor é que ele nos ilumina.
Faz-nos livres e cativos, felizes e tristes.
Um dia com o  amor passa voando.
Um minuto longe se arrasta  É a sina.

O bom do amor é que  nunca envelhece
Põe brilho de estrela no olhar
Põe canção do mar  no coração
E vira poesia quando o dia amanhece.

O bom do amor é  amar eternamente
Sem pensar jamais  na despedida..
O bom do amor é criar laços infinitos
Ser um só corpo, ter uma só mente.


OLHEI PELA JANELA...

Olhei pela janela...
No clarão do sol que me sorri
Vi passar meus sonhos, minhas buscas,
Inquiete-me! Onde estavam os meus ideais?
Onde estavam os meus propósitos?
A vida passou pela minha janela...
O sol desapareceu.
Uma leve neblina  cobriu de lágrimas o meu olhar.
Passar a vida a limpo...  tenho medo!
O que encontrarei detrás de cada ato?
Desafeto? Desvario?
O tempo passou... se foi.
Há coisas para refazer?
Que o  presente as refaça.
Há coisas para buscar?
Que o presente  as encontre?
Esperar pelo futuro?
Este ser desconhecido que se ri de nossas buscas
E nos fadiga o tempo todo brincando de gato e rato!
Ah,  passei a vida a limpo...
Olhando as sombras desenhadas na janela de minha vida.
Vitral colorido onde espelhei meus sonhos
E  desfiz meus desenganos.
Recomeçar... ainda é tempo!
Talvez... Não sei
Se alguém souber a resposta...
Que  dê.

                                                                                                  ESPERAR

Anos e anos vividos,
Dias  e dias sofridos,
Horas  e horas  esperando...
Que  o sonho se realizasse,
Que  o amor não acabasse,
Que  a vida continuasse.
Quanta monotonia! 
Esperar. Esperar. Esperar...
Anos passaram,
Dias se foram,
Horas correram
E... dentro da alma o vazio se instalou.
Por que acondicionar ao tempo o direito e o dever
Da realização humana?
Porque depender do tempo,
Que  passa e destrói os sonhos que a vida nos deu?
Viver é mais do que esperar.
Viver é pôr-se a caminho,
Viajante do infinito que somos.
Alma nova, coração novo,
Passando a vida a limpo,
Banhando-a na água que o céu derrama
Quando a calmaria cede  vez à tormenta
Despertando a última chama.

                                                                                        AMOR PROIBIDO I

Caminhava  na rua  serena...
Quando te vi...
O  coração, ah, o coração!
No peito quis explodir.

Quem é este que ata meu coração
Com fios de ternura e  laços de amor?
Afastar-me,  afastar-me é preciso,
Que este amor é proibido.

Ah, mas que delícia olhar em teus olhos?
Imaginar o teu beijo
Sentir teu calor
Ah, que delícia deixar-me envolver
Por tuas palavras, palavras de amor?

Não! Mas que digo eu?
A mim  não foi dado o direito
De te amar e carregar-te  ao peito
A mim só resta  esquecer-te,
Afastar-me do  teu corpo e arrancar-te do pensamento.

Mas confesso o meu delito, o meu desassossego, o meu tormento.
Fui enfeitiçada,   cativa dos teus braços, cativas dos teus laços.
Libertar-me?  Quem sabe um dia.
Agora!  Não é possível.

AMOR PROIBIDO II

Proibiram-me de amar...
De sonhar e de viver o meu sonho de amor.

Quis enganar o céu,
Quis convencer o mar,
Quis aliar-me às estrelas
Para o meu sonho realizar.

Proibiram-me de amar...
De viver e de buscar junto a ti  o meu amor.

Quis  conquistar o direito
Quis  apegar-me ao infinito
Quis  selar o teu peito
Com o amor que trago em mim.

Tudo vão!  Tudo desfeito!
Barreiras infindáveis! Vozes implacáveis!
Levantaram contra mim.

Amo e não posso amar,
Quero e não posso querer.
Mas de uma coisa estou certa!
Que delícia é te amar!
O  coração sempre em festa
Vivendo o momento...
Pois o que há de ser, será.

SEMEANDO ESPERANÇAS

O meu olhar  vestiu-se de esperanças...
Despiu as  vestes da tristeza,
As lágrimas da dor e se cobriu de amor.
O meu olhar lançou-se ao infinito
Depôs o manto das estrelas
E com elas vestiu a terra.

Em cada canto vazio
Uma estrela surgiu.
Em cada lugar sombrio
Uma flor se abriu.
Fazendo que com que a natureza
Renovando-se por inteiro
Semeasse em cada canteiro
Esperança, paz e luz.

O meu olhar vestiu-se de esperança...
Desfez o véu da descrença,
Apagou o medo do amanhã
E se tornou mais criança.
Em cada  pedaço de terra
Em cada  coração humano
Ouvia-se o vento cantar,
Afastando o que era insano.
Sementes de esperança foram lançadas
A terra ficou  florida
Os jardins ganharam vida
E o coração a paz.

                                                                                              UMA SEMENTE

Uma semente lançada
No jardim do amanhecer
Veio mostrar ao homem
O que é preciso  aprender.

A chuva regou a terra
A esperança  brotou
O homem depôs as armas
A  paz o poeta cantou.

No jardim do coração
Cresceu mais uma flor
Esperança semeada
E regada com  amor.

Ah, pudesse o ser humano
Semear  em sua jornada...
Uma esperança em cada vida
Um jardim em cada estrada.


OS JORNAIS

Os jornais destilam  problemas,
Crises infindáveis pesam sobre as cabeças humanas.
Não há dinheiro para as obras sociais
Não há recursos para a educação
Não há verba para os hospitais.
O que será de nossas crianças?
O Brasil  está acuado.
Não cresce,
Os juros se avolumam
A carga tributária  também.
Mas não há dinheiro!
Há que  esperar.
O povo está cansado de sonhar.
Os sonhos estão morrendo.
A esperança está minguando.
A vida está cedendo.
Um país tão rico,
Uma terra tão bela,
Um povo tão criativo.
E por que as coisas não mudam?
Há quem tenha fome, muita fome,
Mas não é fome de pão
É fome de poder, domínio absoluto
Há quem tenha medo, mas não é medo da morte.
É medo de perder as rédeas que mantém o povo acorrentado.
Trabalhar, trabalhar, e não ter o que comer.
Os jornais assustam,
Suas palavras matam,
Os jardins murcharam,
As fontes secaram
E o povo espera.
Espera...


FOMOS ENGANADOS...

Fomos enganados.
Não é apenas o rei que anda nu,
Os seus ministros também.
Não basta uma criança para revelar o terrível  oráculo.
É necessário uma multidão.
Uma só voz é silenciada.
Muitas vozes viram sinfonia.
Sacudir a poeira,
Tirar as teias,
Que cobrem os nossos administradores.
A educação como vai?
Vai como sempre foi.
Arrastando-se, lentamente,
Alimentada por alguns ideais.
E presa aos trâmites legais.
Aprender.... 
Chave capaz de devolver à nação
O orgulho de ser povo
O direito de ser gente
E o título de  cidadão.
AH, QUEM ME DERA...
Ah, quem me dera parar um instante...
Sentar-me  à janela
Com o olhar   no horizonte.
Ah, quem me dera parar um momento...
Sentir o perfume
Das flores dançando ao vento.
Ah, quem me dera parar um pouco...
Afastar as sombras
Que cobrem meu rosto.
Ah, quem me dera  apenas olhar...
As horas passarem,
Os minutos correrem,
A vida rolar,
Como seixos no rio
Na direção do mar.

AMADO MEU

Amado meu, vem comigo,
O sol se vai, a noite vem.
Saiamos pelo campo,
Quero prender os últimos raios de sol
E prolongar o arrebol.
Quero colher o perfume da flor
Para enfeitar o nosso  ninho de amor.
Vem, amado, meu,
Saiamos  pelas campinas verdejantes,
Pois  o dia  agoniza e a noite  se insinua.
Quero ver os vaga-lumes em festa
Eternizando o  entardecer.
Quero bordar fantasias
Na noite serena e fria
Que do alto nos espia
Convidando a  bem-querer.
Vem, amado meu,
O  amor nos acena
Tem  perfume de açucena
E  gostinho de anis.
Deixaremos o mundo absorto
Diante dos  sonhos marotos
Que o amor nos fez semear.
Vem, amado meu,
Antes  que a tarde se vá
E a noite nos escureça.

JARDIM

O jardim é um recanto  de muita vida...
Nele o pássaro, o inseto e o capim
Convivem em perfeita harmonia.
O jardim é um lugar incrível...
Nele a criança, o cachorro e o gato
Tecem sonhos e bordam fantasias,
Enquanto a luz do dia declina.
O perfume da flor,
O vôo da borboleta,
O canto do pássaro
Faz do  jardim um lugar encantado.
Às vezes, devaneio louco, imagino...
Ser parte de um jardim
E abrigar em meu ser
Os pássaros, as borboletas e as crianças.
Ouvir cantigas  e deixar o tempo passar.
Sem medo, sem pressa...
Viver!

DIAS

Gosto dos dias nublados...
Pausa entre a luz e a sombra.
Gosto dos dias chuvosos...
Intervalo entre o riso e a lágrima.
Gosto  dos dias  tempestuosos...
Interstício entre a vida e a morte.
Gosto dos dias ensolarados...
Entreato  entre o ir e o ficar.

ESMOLAS


Ninguém  precisa de esmolas.
Precisamos de  respeito e dignidade.
Não queremos o pão fácil, recebido,
Queremos o pão conquistado.
Trabalho,  liberdade,  esperança.
Saúde,  livro,   segurança.

Abaixo  as mordomias dos  que vivem acomodados.
Usufruindo o fruto do trabalho alheio.
Abaixo os que fazem do Brasil apenas um berço esplêndido
Ostentando poderio, mente e coração atordoados.
Basta de  miséria  e opressão.
Vamos dar ao povo
O direito de ser cidadão.

ÂNCORA

Ancorei os meus sonhos no cais da vida,
Mas a  brisa  pôs-se a cantar,
Sussurrando palavras doces
Impelindo-os a navegar.

Ancorei os meus sonhos no cais da vida,
Mas o oceano  os chamou,
Murmurando lindos versos,
Longe de mim os levou.

Ancorei os meus sonhos no cais da vida,
E parti com meus tristes ais.
A viagem foi sofrida,
Naufraguei,  voltei atrás.

Velas,  quero velas  nos meus sonhos,
Velas grandes e içadas,
Velas brancas e aladas,
Para  conduzir os meus sonhos
Pelas  enseadas do mundo.

TEMPORAL

Ventos, chuva, relâmpagos, trovões...
Temporal dentro da alma.
Cada raio que corta o céu do meu existir...
Flesch de Deus no ar.
Cada trovão que sacode o meu coração...
Tambor do infinito a ribombar.
A chuva batendo  aflita
Em minha janela...
Traz esperanças,
Traz-me canções
De outras eras.
Há alguma coisa de sublime, de sagrado
No temporal que desanda em mim.
Perde-se o medo...
Mergulho  demorado
De quem não tem mais segredos.
É parte de tudo...
Começo e fim.
É água que corre...
Alagando o jardim.
Quando o temporal se desfaz,
A vida se faz serena
E dorme.

A POESIA ME CHAMOU...

A poesia me chamou...
Voz suave, límpida e clara.
A poesia me chamou...
Mas tive medo de sua fala.

Insistiu... Reclamei...
Agora não posso.
Foi em  vão. Gritei.
_Agora não posso.
Tenho muito que fazer.

Inútil.

Vi-me de  mãos atadas
Presa à poesia
Que de mim  emanava.

AO ANOITECER

Céu vermelho,  mesclado de azul, embebido em sonhos loucos.
Vento vespertino leva consigo pétalas de flores...
Uma ave pia em busca de abrigo.
A escuridão, aos poucos, 
Dissipa as cores,
 Engole  o dia.
Afugentando o sol.
Que  muro tenebroso é este que insiste em cobrir a luz?
Muro coberto de magias, muro assustador...
Há quem tente o mistério decifrar...
Romper a escuridão.
Saltar o muro...
Rasgar o véu
Da noite em que mergulha o homem
E libertar o dia.

VAZIO


Sentada neste banco, olhando os jardins,
apreciando o silêncio da escola  sem alunos...
Como parece estranha esta quietude!
Não há gritos, correrias, nem risadas.
Não há algazarra, nem  brincadeiras.
Um silêncio pousa em cada flor.
A  paz  repousa em cada banco.
E eu aqui... olhando e apreciando o silêncio.
Como faz falta em nossas vidas um momento de quietude.
Como o nosso coração,
sufocado pela correria da vida, 
necessita de refrigério.
Mas os tempos são outros, dizem os jornais.
E tudo urge...
O trabalho, o dinheiro, o sucesso.
Há uma fome insaciável em cada esquina.
Uma busca insensata em cada rua.
O que os homens desejam?
O mundo! O universo! O poder!
O que farão com as coisas que  desejam?
Trancafiados,  cuidarão de não perdê-las,
enquanto  o  tempo, inexorável segue,
marcando nosso rosto de rugas e medos.
Depois... quando tudo passar...
Nada  restará.
A não ser uma imensa fome de vida.

NA CURVA DO RIO

Na curva do rio...
Sob o pé do salgueiro
Teu olhar de esmeralda
Do meu se despediu.

Céu escarlate
Na tua partida.
Coração que parte,
Leva parte da vida.

O salgueiro ainda chora
Nas noites sombrias
Suas folhas saudosas
Clamam  por ti.

O tempo passou...
Não te esqueci.
Teu olhar esmeralda
Nunca mais vi.

A BUSCA

Olhei pela janela...
Perscrutei a manhã que, suavemente, espreguiçava.
Busquei um poema...
No ar, na brisa, na folha caída ao chão.
Busquei um verso...
Na  árvore, no pássaro, na borboleta azul.
Coisa estranha!
Eu sei que os poemas estavam  aqui.
Ariscos, esconderam-se de mim?
Eu sei que  os versos estavam aí.
Sorrindo sob os raios do sol
Brilhando no orvalho da manhã.
Camuflados  nos jardins.
Eles se esquivam,
Brincando de esconder
Enquanto a manhã segue
Como toda  e qualquer manhã.
.
                                                                   NINGUÉM

Ninguém ouviu o que falei...
Nem  percebeu  o meu silêncio.
Ninguém sentiu a minha dor
Nem  se importou com o que eu penso..
Convivemos...
Tão  desiguais que somos.
Caminhamos...
Mas não nos conhecemos.   .
E quando o crepúsculo cair...
O que  iremos dividir?
O que vamos partilhar?
Nada somos! Nada tivemos!
A não ser um nome...

A MENTIRA

A mentira no palco da vida
Abre suas cortinas e espia os homens.
Centrados em seus mundos particulares.
Cada qual em seu  castelo.
Esbanjam sorrisos, ou carrancas...
Seguem alienados,
Procurando fatias de felicidade
No imenso bolo da vida.
Uma festa! Um evento qualquer
Que lhes dê a ilusão
De  que tudo é muito  simples,
Ah! Banalização  do ser !
Ah! Banalização do amor!
Não se entendem! Não percebem
Que a tarde cai e o crepúsculo  desce.
O que encontrará?
Homens perdidos, homens vazios,
Afogando o eterno no  copo frágil  da vida.

QUERO-QUERO

Certa manhã,  ao semear palavras de poesia
Na tela cinzenta  e fria
Do meu computador,
Quero-quero passou por minha janela
Com seu vôo alegre
E seu ar de cantador,
Desviou meu pensamento
Para longe de minha dor.

Ah, como eu quero,
Quero-quero,
Voar contigo no ar
Esquecer tudo que impede
Meus versos de circular
Pelas janelas alheias
Dos corações a vagar.

Quero-quero,
Eu sei que queres...
Os meus dias alegrar.
Quero-quero
Também quero...
Que a vida seja leve
E a tristeza muito breve.

ACORDAR



Acordar é...
dar a cor.
Que cor?
Cor para a vida
Cor para os dias
Cor para a cor?
Acordar é ...
Dar a cor.
Para que a vida seja mais.
Colorida de amor,
Colorida de luz,
Sem dor.
Acordar é ...
Dar a cor
Despertar.
Recomeçar.

SER POETA


Ser poeta é olhar
O tudo como se fosse nada.
O nada como se fosse tudo.
Ser poeta é perceber
Que as coisas mais simples
São as mais complexas.
Ser poeta é mergulhar
Num mundo material
Sem esquecer o essencial.
Ser poeta é  despertar
O homem, a mulher, a criança
E cair na dança da vida
Sem  medo de se encontrar.
Ser poeta é simplesmente...
Poetizar.

FOLHAS


Folhas em branco
Meus sonhos...
Papéis amassados
Meu mundo...
Algo inatingível.
Meu eu...
Onde o encontro?
Um dia quem sabe...
Eu tome essas folhas
E nelas imprima
Os sonhos que tive,
O mundo que quis
A vida que sonhei.
Então, certamente...
Livros, livros   farei.,

TECENDO...

O fio que tece a trama,
O fio que enlaça a vida,
Às  vezes emaranha...
E nesse emaranhado que sou,
Custa-me descobrir a saída.
Ah se eu fosse Ariadna
Capaz de entregar o fio.
Ah, se eu fosse Teseu,
Capaz de  destruir o monstro
Que habita este labirinto que sou.
Depois  seguiria, passo a passo,
Desfazendo todo o drama,
Pois a minha alma clama
Por ser quem é...
Nada mais!

INVESTIMENTO

Correm cavalos loucos pelas Campinas
Dos meus pensamentos.
Voam borboletas azuis pelas pradarias
Dos meus desalentos.
Despertam  aves  multicores pelos jardins
Dos meus sentimentos.
Desfaço-me... Reconstruo-me...
Em todos os momentos.
Caminho, busco, invento,
Nada limitará o que sou
Nem teus julgamentos.
Sol,  chuva, brisa, vento
Lágrima, riso, dor, alento...
Nada me afastará do meu intento...
Sei o que quero...
E o que não quero.
Dos teus nãos me fiz isento ,
Dos sins  não estou sedento,
Apenas uma coisa importa...
Continuar no meu movimento.

ELEIÇÕES

Os números estão aí...
mostrando a verdadeira face
dos cidadãos  descontentes.
Mas é  preciso manter a esperança,
gotas suaves de poesia,
envolvendo o coração
de quem  acredita
que o Brasil ainda tem solução.


AMO-TE...

Amo-te, amado meu,
Como quem ama a beleza etérea
Do astro que enfeita a noite
Da flor que perfuma o jardim
Da água que mata a sede
Do sol que  aquece  a vida
Pondo luz dentro de mim.

Amo-te, amado meu,
Nunca venhas duvidar
O amor que eu te tenho
É  mais forte do que o mar
É mais vivo que o vulcão.
É  torrente de paixão
Que em ti vem se acalmar.

Amo-te, amado meu,
O meu amor é suave,  canção de harpa no ar.
É o canto do passarinho que anuncia com carinho
Que a noite  já passou e a  aurora  surgirá.

Amo-te, amado meu,
O meu amor é uma âncora que prende teu corpo ao meu.
É sublime e precioso,   tem perfume de romãs
E a beleza das manhãs.

Amo-te,  amado meu,
Tal amor não queiras entender
Porque ao amor é dado apenas amar
E ao entendimento, compreender.

PALAVRAS

Há palavras dentro de mim...
Palavras adormecidas.
Palavras  coloridas.
Tento  acordá-las...
Elas se rebelam
Negam-se a vir  para a luz.
Eu emudeço...
Ah, agonia de não poder dizer o que sinto
Ah, tristeza de não poder falar o que  desejo.
As palavras domem dentro de mim...
Preciso despertá-las.
Preciso trazê-las ao mundo.
Parece que todos os versos,
Os  mais lindos,
Os mais profundos
Resolveram de repente
Fechar-se dentro de mim.
Parece que a música, aquela música
Que brota quando o sonho e a alma andam juntos
Cessou...
Silêncio total! Silêncio de dor
E eu...
Calada!   Sem palavras.

MEU SONHO

Meu sonho é um vitral colorido
Por onde  espio o infinito.
Nele me espelho, nele me aquieto.
E quando todos  tentam
Encher meus ouvidos
Com  presságios funestos,
Agarro-me ao meu sonho e resisto.
Sou náufrago  no mar da vida
Agarrado a uma tábua, palavra aflita
Preso a um esteio, verso vital
E não me deixo levar.

Meu sonho é um clarão de luz
Que atravessa as noites sombrias
Dos muitos nãos recebidos,
Das muitos enganos sofridos...

Sou semeador de palavras...
Não me deixo  conduzir.
Meu sonho tem asas!
Eu lhe dei asas!
Asas reais, não as de Ícaro
Asas verdadeiras , não falácias.
Sou livre e meu sonho é vida.

OS SEGREDOS

Quantos segredos repousam nas manhãs serenas?
Quantos segredos vestidos de luzes cintilam no ar?
Quantos segredos dentro de mim!
Segredos dentro de ti.
A água do riacho canta os seus segredos
Agucem os ouvidos!
Ah, os segredos...
Versos velados,
Vozes suaves, súplicas, sussurros.
Ah, os segredos...
Eu tenho os meus.
Tu tens os teus.
E não repartimos com ninguém
Segredo partilhado não é segredo.
Ah, os meus segredos...
Guardo-os envolvidos em névoa fria
Embebidos da mais pura poesia.
Às vezes... para enganar os incautos
Deixo um deles escapar.
Ninguém lê nas entrelinhas
O meu segredo transformado em versos.
Versos que a chuva lava,
A vida leva
E aprimora.
Ah. Quisera eu que todos os segredos do universo
Repousassem na palma da minha  mão.

SEGREDANDO...

Caminhando  sigo...
Segredando a dor, a tristeza e a angústia,
Expandindo  o amor, a esperança e a luz
Para que  o homem se encontre,
O amor proclame
E  a paz declame.
Enquanto  a escuridão se afasta
E a  canção desata.
Caminhando  sigo...
Segredando  o pranto, a dúvida e o vazio,
Expandindo o sonho, a alegria e a união
Para que o homem  conquiste seu espaço,
Doando abraços
Criando laços.
Eternos e ternos.
Com a humanidade.

VENCER...

Uma vitória com gosto de mel
Repousa na corola da flor.
Um desejo mesclado de cor
Paira sobre o teu e o meu céu.
Vencer...
Ah, quem me dera vencer.
Dominar o vento  e fazer poesia
Depois libertar o vento e os poemas
Para vê-los mergulhar no infinito
Do meu e do teu dia.
Vencer...
Ah, quem me dera aprisionar a derrota
E abrir a tua e a minha porta
Para que voem os sonhos...
E libertem a aurora.
Vencer...
Ah, eu quero vencer.

ESTE ANO

Projetos, sonhos, esperanças...
Repousam   em todas as estrelas.
Cada luz que corta o céu  conduz um sonho
Cada  acorde musical  transporta uma idéia...
Este ano eu vou ser feliz...
Estudar mais,
Retomar o que abandonei,
Adquirir  coisas novas.
Não! Não farei isso.
A minha lista vai ser diferente.
Ah, este ano eu vou...
Laçar a lua e caçar as estrelas.
Depois tecerei os meus sonhos
Com fios de  ternura e carinho.
Do arco-íris  quero as cores
Para  colorir o meu caminho.
Da cachoeira quero a música
Para  banhar-me em poesia.
Do jardim quero a essência
Para perfumar os meus dias
Com   cheiro de ano novo
E um gostinho de alegria.

0  ERRO

Ah, o erro...
Eu o caço
Ele foge
Esquiva-se
Camuflando-se
Ri-se de mim.
Ah, o erro
Ainda ontem eu me julgava certa
Ele não estava  no texto.
Eu havia garimpado
Linha a linha...
Palavra a palavra...
Nada!
Mas hoje depois de pronto,
Acabado...
O que escuto?
Uma gargalhada!
É ele, o erro me dizendo:
_te peguei outra vez.
Ah, o erro é o tombo cruel
Do revisor de textos.

RETROSPECTIVA

Faz  muito tempo...
Sete...Oito... nove anos...
Aqui chegamos.
Pequenos, alegres, cheios de sonhos.
Sonhos azuis...
Sonhos cor-de-rosa...
Oh! Eram tantos os sonhos.
Tantas as esperanças.
Tempo. Uma palavra esquecida.
Afinal teríamos muitos anos de Vidal Ramos
Ah! Engano fatal!
O tempo voou.
Não conseguimos segurá-lo em nossas mãos.
Ontem  éramos alunos pequeninos...
Hoje  estamos prestes a deixar o ninho.
Ah, Vidal Ramos...
O coração está pequeno, apertado...
Abandonar estas salas cheias de histórias
Retalhos de  vidas,  colcha colorida.
Lá fora...
Um  universo de possibilidades.
Aqui...
O  conforto, a segurança,  saudade.
Para onde iremos?
Em que escola  estudaremos?
Ah, Vidal Ramos...
Precisamos partir
Deixar o ninho... Voar... seguir...
Abandonar o abrigo seguro,
Para construir  o  futuro.
Levaremos, porém, conosco,
O amor, as lições recebidas,
As  amizades vividas...
Parte de nós ficará
Para sempre gravada.
Mais um retalho precioso
Na imensa colcha da vida

TERESA RAQUEL

Vieste sorridente,
Vieste como quem vem
Mostrar para toda a gente
O sorriso que convém.
Ah, menina travessa...
Foste breve, muito breve...
Tão leve quanto a garoa
Passaste por nós  e...
Quando olhamos
Não estavas mais.
Ah, Menina Teresa!
Como nos fará falta o teu sorriso,
Teu olhar doce embebido de luz,
Tua palavra que traduz
Todo o teu desejo de paz!\
Vai, Teresa Raquel,
Pintar estrelas,
Bordar o céu,
Colorir o ar
Com tintas de esperança
E sorrisos de crianças!

EU ME ALEGRAREI NO SENHOR...

Ainda que tudo esteja contra mim.
Ainda que as lágrimas rolem
Ainda que todos pisem o meu jardim
Ainda que a vida seja dura, triste...
Eu me alegrarei no Senhor.
Ainda que a esperança se vá
Ainda que a tarde caia sobre minha alma
Ainda que o vento ruja furioso
Ainda que eu perca toda a calma
Eu me alegrarei no Senhor.
Ainda que a escuridão me alcance
Ainda que a dor  me visite
Ainda que eu perca todos os lances
Ainda que nada mais me reste...
Eu  me alegrarei no Senhor.


O TEMPO

O tempo... são fios brancos
O tempo ...são rugas na face cansada e aflita
O tempo... são véus que insistem e roubar meu direito ao céu
O tempo...  são sombras vagando quando o dia passa e a noite cai.
O tempo... são lágrimas que marcando a face de tristes lembranças.
O tempo... são  sonhos apagados e pisoteados nos canteiros do mundo.
O tempo... são marcas indeléveis pousando cruéis sobre as nossas cabeças.
O tempo... são asas de anjos vagando  livres  acima de mim,  de ti, de todos nós.
O tempo... ah, o tempo...
Ele  nos alcança, nos mata e nos enterra.
O tempo... ah, o tempo...
Ele tudo vence, tudo abafa, tudo  esquece.

IMAGINAR

Imaginar que  a vida seja um jardim
Imaginar que o mundo seja um canteiro
Imaginar que as pessoas sejam flores...
Rosas, cravos e jasmins
Perfumando os ares, embelezando tudo.
Imaginar...
Se tudo quanto existe já foi sonho de alguém

Talvez não saibamos mais sonhar,
Muito menos imaginar.
E ficamos  pessimistas, chorosos,
A descrer da vida e de todos os viventes.

Precisamos romper este casulo triste e  sombrio
Que nos aprisiona e não nos deixa ver o sol.
Não somos lagartas,
Somos borboletas.
O céu espera por nós
Cuidemos  do jardim...
Façamos canteiros
Plantemos  flores
Para que o mundo
Possa   florescer.

APRENDIZ...

Seguir aprendendo...
A palavra da vida
Que brota da luz
E nos mostra a saída.

Seguir aprendendo
A palavra de amor
Que brota do olhar
Sem nada impor.

Caminhar devagar...
Pés  no chão...
Olhar  no infinito.

Horizonte que chama
Acende uma estrela
No âmago da vida
De quem percebeu
Que é parte de tudo...
Começo e fim.

O MEU OLHAR

O meu olhar é uma estrela que vaga
Nas lonjuras do mundo,
Buscando o que não vê, mas sente.
Meu olhar é uma janela aberta
Pairando sobre o infinito
De minha alma  inquieta.


O meu olhar é um pedaço de mar
Que canta nas vagas e ondas dispersas.
Eterno  como o sol.
Livre como o  vento.
O meu olhar é uma porta que se abre
Expandindo o horizonte...
Não há muros,
Não há barreiras,
Nem  grilhão.
O meu olhar...
Ah, não tem limite não.

O PASSADO

O passado vivido nos espia...
Através das teias que cobrem o nosso eu.
E vez por outra nos envolve...
São lembranças que escapam e se infiltram no presente.
Nossos olhos se tornam marejados, saudosos...
Ah,  como era bom viver!
O tempo não nos assustava.
Ele passava,
Suave e lento.
O futuro não nos assombrava.
Era promessa.
Deslumbramento.
Hoje o presente nos intimida.
O passado nos visita.
E o futuro...
Desconhecemos .

ÀS VEZES ...

Às vezes somos estrelas...
Iluminamos .
Às vezes somos água...
Renovamos.
Às vezes somos mel...
Adocicamos.
Às vezes somos  pão...
Alimentamos.
Às vezes somos  farol...
Guiamos.
Às vezes somos flores...
Perfumamos a vida de alguém.
Mas...
Às  vezes somos  pedra
Pedra de tropeço
Espinho
Espinho que fere.
Fio...
Fio de navalha.
Palavra
Palavra que mata...
Nuvem
Nuvem de lágrimas
Vento
Vento que destrói...
A vida de alguém.

A PESCARIA

Isca colocada..
Anzol lançado.
Silêncio!  Eis o apelo.
A pescaria se inicia.
A tarde suave, nublada...
Olhos atentos ao menor rumor da bóia.
Na lagoa os peixes dormem...
Ignorantes do perigo que os espreita.
Será?
Parece que aquele silêncio forçado...
Aquele ar entediado...
Os cochichos,
As risadas sufocadas...
Clima de conspiração no ar.
De repente... eis o primeiro peixe.
Alegria dos pescadores.
Mas na beira da lagoa
A vida se debate.
Custou-lhe caro a gula.
Quantas vezes somos iludidos
Pelo brilho falso das coisas vãs.
Depois nos debatemos...
Torturamos o céu com nossos lamentos.
Nada retorna...
O anzol içado  seguirá o seu curso.
Os erros... suas conseqüências.
É a lei da vida!
E contra esta lei não há suborno que resolva.

UMA NUVEM

Uma nuvem pousou em mim
Escureceu o meu céu,
Trovejou em meu eu
Caindo  sobre meu jardim.

Torrentes  do céu desabaram:
Chuva, granizo e ventania.
Amor e esperança deixaram.
Levaram o que de triste havia.

Tempestade dentro d’alma,
Faz a gente repensar.
Arco-íris  traz a calma.
Faz a vida serenar.

O HOMEM

Nos passos do homem que segue
Há uma esperança.
Na calma do homem que fica.
Uma certeza.

Nas palavras do homem que fala
Há uma mensagem.
No silêncio do homem que cala
Uma eternidade.

Na mente do homem que busca
Há   sonhos.
Na ação do homem que faz
A realidade.

NÃO É PRECISO

Não é preciso galgar os montes...
Subir as montanhas e a serras,
Acabar com  os rumores de guerra,
Para  ampliar os teus horizontes.


Não é preciso ser rico e  driblar a sorte
Vencendo a tudo até mesmo a morte.
Apenas uma coisa  te é pedida...
Que sejas íntegro e verdadeiro
Assumindo por inteiro a tua vida.

UMA BRISA

Uma leve brisa passou por mim...
E me chamou.
Acompanhei-a  passo a passo.
A princípio suavemente...
Depois se agigantou e me arrastou.
Debati-me resistindo...
Em  vão.
A brisa  se tornara vento.
Vento tempestuoso,
Vento sem medidas
Enovelando  a minha vida.
Emaranhando os meus pensamentos.

HAICAIS

Na  rede lançada...
Um sonho vagava,
Borboleta no ar  rodopiava.

Meninice eterna
Brincando no olhar...
Sua hora é agora. Nada mais.

Na folha que cai...
Uma sentença de vida e de morte
Ela fica? Ou vai?

No vento que sopra...
Um simples lamento... tormento
Vou ou não vou?

Um homem arquejado.
No rosto cansado  de rugas marcado...
A sentença do tempo.

Armei a rede. Era  aurora
Na  árvore do jardim da vida... adormeci.
Perdi a hora.

O  que é o futuro?
Um desconhecido que de longe nos acena...
Ou um grito rompendo o escuro?

FOME

O homem tem fome...
Mas não é fome de pão.
O homem tem sede
Mas não é de água não.
A fome do homem  tem nome...
Tem a ver com o que ele come...
E o que come o homem?

ANOITECE...

Um toque de sino...
Um pio de ave...
É a tarde que cai.

O sol se vai.
Levando consigo
A luz que  seduz.

A noite desce
Calma e serena
Qual uma prece.

Silêncio e paz...
A vida adormece.
Tudo se refaz.

SAUDADES...

Terra molhada...
Cheiro no ar.
Pés descalços
Semeando cantigas.
Na lama do chão.

Ah, as poças d’água!
O ribeirão,  o velho balaio
Pescando sonhos nas águas correntes.

Saudades...
Tempestades, granizo, trovões,
A terra cantava, o vento zunia,
A vida corria bem longe de mim.

Ah,  saudades  de lavrar a terra,
Semear  o grão e dela retirar o pão.
Ah, trabalhar  com a palavra
Lavrar a  vida, o caminho, o chão.

Ah, saudades das histórias  do meu avô
Fecundadas pela imaginação.
Gerando  aipim, milho e arroz.
Enquanto o tempo passava
E a vida nos encantava.

Hoje... Bem, hoje,
Corre um rio dentro de mim
São árvores, chuva, vento, coqueiros
Coisas sem fim!


DESCENDÊNCIA

Descendo das estrelas...
Sou grão de poeira,  faísca  da vida
Afastando a escuridão.
Descendo do infinito...
Sou réstia de grito, vagando impreciso
Rompendo o silêncio.
Descendo do mar...
Matéria vital, plasmando a vida
Sem pressa nenhuma.
Descendo de Deus...
Sou parte do verbo, criatura escolhida
Preenchendo  o vazio.

OBSCURIDADE

Não apague a minha luz!
Não quero o negrume  não.
Quero ver o dia cintilar...
Incêndio de ouro no ar.

Afaste  essa negridão espessa
Que ofusca  o clarão do dia.
Nublando a minha esperança
Com  sombras  funestas e frias..

Quero ver a vida clarear
Chama acesa  cintilante
Luz rutilante  a me banhar
De fagulha, faísca e diamante.

SANDICE

Homem...
Tua sandice me apavora...
Ambição desmedida,
Cataclismo  selvagem,
Que circula o planeta
Com  ondas gigantescas,
Coisas dantescas,
Desfazendo as crenças,
Nas nossas cabeças.
O que fazer?
Resposta de fogo e ferro...
A bomba mata,
O  sangue escorre.
E o povo sem sonhos morre.
A guerra, mortalha que cobre
Quem em vão pereceu,
Vítima do horror de quem dorme feliz
Embalado  por sonhos que não mereceu.
Ó trama cruel, que envolve o homem,
Sedento de paz, carente de amor,
Vagando impreciso,
Desde a aurora do mundo!
Vagalhões  aterradores...
Monstros  horrendos...
Destroem  os jardins.
Onde  lilases havia,
Espalhando medo
Aproximando o  fim.

DESPERTAR A AURORA...

Hoje vou despertar a aurora
Que há em mim. Que há em ti
Sem pressa, sem medo de ser feliz.
Hoje vou despertar a aurora
E modelar o presente.
Quero crianças em todos os  jardins,
Quero flores em todos as janelas,
E uma poesia sem fim.
Hoje vou despertar a aurora
E renovar o  meu ser.
Quero um sorriso em cada rosto
Quero uma cantiga de amor
Para  a escuridão desfazer.
Hoje vou despertar a aurora
E recomeçar a viver.
Afastar as  tristezas da vida
E os temores da solidão.
Hoje  vou despertar a aurora
E contigo caminhar.
Tua mão em minhas mãos
Brincando de semear
Ternura, sonhos, luar.

PÁGINAS DA VIDA

Abri o livro da vida...
Página  a página, lentamente...
Percorri minha história
Meus  caminhos
Meu mundo
Revi os meus sonhos, meus medos,  minhas buscas...
E  principiei uma viagem pelo labirinto do meu ser.
Cada página trazia...
Pingos de luz,
Restos de cores,
Fragmentos de  mar.
Coisas que colhi, coisas que  recebi
Ao longo do caminho,  nos lugares em que vivi.
Cada página também  mostrava:
Partes sombrias,
Água sem brilho,
Céu sem amores.
Momentos que perdi, coisas que não fiz
Nos caminhos por onde andei.
Diante do que vi, nada mais havia a fazer,
A não ser...  Recomeçar.
Fechei o livro.

DE ONDE VENHO?

Venho das montanhas distantes
Do mar que me  sorri,
Cantando  nas horas calmas.
Venho do azul que  me cativa
Das estrelas fulgurantes,
Que habitam o meu ser.
Venho das planícies verdejantes.
Da  terra que já foi leito
Do rio que brotou em mim.
Sou grito na manhã clara
Sou canto na noite calma
Sou onda no mar da vida
Sou treva e também sou luz.
Caminho neste mundo louco
Vagando entre homens doidos
Perdidos entre curvas tantas
Esperando o dia surgir.
Não tive medo das trevas,
Quando a noite  me engoliu.
Encontrei coisas diversas
Para iluminar o meu céu.
Quando todos me julgavam louca,
Quando todos me viravam o rosto
Descobri que a  única saída
Era  confundir-me com o vento,
Reconstruir minha vida
E viver o meu momento
Sem medo do que há de vir,
Porque o presente é presente.
O resto... não sei não.


VIAGEM


Tu sabes de onde eu venho? Não!
Venho do interior das estrelas,
Sou  grão de areia... sopro de vida,
Garoa  leve enverdecendo o sertão.

Tu sabes para onde vou? Não!
Sou alguém em busca  da liberdade,
Peregrino  sem pátria, escrevendo a história,
Buscando  respostas, enquanto cai a tarde.

Caminhei  sozinha, passo a passo,
Olhar nas estrelas, bordão nas costas,
No caminho... sementes de versos
Para marcar minha ida e minha volta.

No coração... milhões de desejos.
Ser ar,  ser brisa,  ser vento,
Embeber a alma de suaves beijos
Desfazer a noite e despertar o dia.

Ah, que floresça o meu bordão!
Flores embebidas em véu, chuva fina que cai.
Ah, que  gere  fruto o meu bordão!
Frutos  envolvidos em neblina,
Aquarela  que da alma sai.

Ah, quem me dera...
Prender  o infinito na  palma da mão.
Atirar  o laço... caçar estrelas...
Brincar  de roda com a lua,
Enquanto a manhã desperta
E a noite no meu  céu flutua.

O LIVRO

Ah,  o livro... por ele eu leio o mundo,
Adquiro  conhecimento, me transformo em poeta,
Viro  contador de história que gera vida no solo seco
Que  assusta e faz correr os retirantes.
Ah, o livro... cada página é uma janela  mágica,
Colorida  por onde espiamos a vida,
Encontramos  a poesia, o sonho e  nos transformamos no outro...
Mas quem é o outro? Para ti sou eu.
Para mim és tu. Ah, Drummond, o outro é um enigma.

Ler é compreender o mundo...
É   reescrever a história, com palavras vivas,
É  encontrar  as sementes do cotidiano...
É  aventurar-se por  montanhas infinitas,
É  escrever cartas e atirá-las   ao vento,
É  cantar em versos as  palavras simples do dia-a-dia,
Para que sejam brotos  de esperança na cidade  cinzenta e fria.
Ler é  dar asas à imaginação,
É  saltar  na madrugada do mundo e apressar a aurora,
É  deixar-se conduzir pelo coração
E  vestir  os sonhos  com o   orvalho da manhã.
Quem lê...  conjuga o verbo viver  dando vida à palavra, verbo da criação

Obs.:
(Os poemas A viagem  e Livro  é uma adaptação do poema  feito  com um grupo de alunos da E.B.M. Vidal Ramos; Aline  Araújo,  Gabrielle Heiden, Pámela Anzini, Inara  Marrtins, Kauê S.S. , Guilherme de Almeida e Bruna de Souza no ano de 2004.)

QUEM SOU EU?

Sou um remo
Agitando as águas
Em busca da ilha
Útero seguro, onde me acalmo.

Sou rede no rio, catando esperanças
Afastando o degredo.

Sou livro fechado,
Dédalo sofrido
Estrela vital
Que não posso alcançar.
Relva de desafetos
Degelo de sonhos... onde vou aportar?

Na lua que ri?
Aliança que fiz?
Universo de palavras que me vem sussurrar;

Sou um rio de safiras,
Iluminando as cismas
Sou a letra da ética
Com cheiro de âmbar.

Afasto  meus  erros,
Amplio o universo
Mato a insônia
Povoando de sonhos a minha solidão.



MEU OLHAR
     

Meu olhar é um coral espiando o mar...
Ele se debruça nas águas
E se desfaz em  gotas de luz..
Não tem pressa...
Já percebeu o ritmo da vida.
Não tem medo...
Já  conhece todos os mistérios.
Não tem ambição...
Já é dono do universo.
Não tem segredos...
Já  sabe de  tudo.
Meu olhar abraça o mundo inteiro...
É pedaço de  estrela
É gota de água.
Meu olhar  é mar... é pedra... é  vida...

AH,  QUISERA EU...


Ah, quisera eu tocar o teu coração
Com a doçura da manhã
Com o sopro da canção
E, deste toque suave,
Consumar a nossa união.
Ah, quisera eu tocar o teu coração
Com um gesto  simples,
Gesto de quem tece o dia
Com  um fio de ternura
E uma gota de alegria.
Ah, quisera eu tocar o teu coração
Com um apelo ao infinito
Para que este teu  grito
Se transforme em poesia
Na leveza de meus  dias
Transformados em jardins.
Ah, quisera eu tocar o teu coração
Com cantigas  de bem-querer,
Desfazer o teu sim e o teu não
Sem medo de te perder.
Ah, quisera eu tocar o teu coração
E  compreender o teu ser....


A CRISE

O mundo está em crise...
E daí?
Sigo caminhando
Plantando sonhos, semeando amor
Para vestir o dia e dissipar a dor.
O mundo  está perdido...
E daí?
Sigo procurando  a saída.
Segurando o fio da vida,
Para  achar a direção.
O mundo  está  sendo destruído...
E daí?
Eu prossigo  construindo...
Passo a passo,  pedra a pedra,
Acordando o povo
Pra começar de novo.
O mundo está  sem luz...
E daí?
Eu acendo a chama...
Toco as estrelas,  enlaço a lua
Desfaço o escuro das consciências humanas.
O mundo está  sem Deus...
E daí?
Sou tua irmã...  És meu irmão...
Segura minha mão,  vamos semear a palavra
E reatar o  acordo  com o Verbo da Criação.


OS POEMAS DESPERTAM NAS MANHÃS


Os poemas despertam  nas  manhãs.
É  possível vê-los sobre as  folhas...
São  gotas de orvalho.
É possível  ouvi-los nas árvores...
São pássaros cantando.
É possível senti-los no ar...
São  perfumes florais.

As manhãs envolvem os poemas...
Com fios de neblina e gotas de luz.
Despertam com o nascer do dia.
E dormem ao anoitecer.

Mas...
Se   o coração  estiver atento...
 Sintonizado...
É possível captar  os poemas
Na música do universo
É possível transformar em poesia
A escuridão do dia.
É possível  fazer poesia
na madrugada vazia.
É possível  compor um poema
Na noite serena.
Tudo depende do coração
Mas lembre-se...
Os poemas despertam  nas manhãs.


ÀS VEZES...

Às vezes encontro pedaços de mim
Nas  ruas vazias ,
Nos palcos sombrios,
Nos sonhos azuis que envolvem os jardins.
Penso, reflito
Na quebra que houve
Nos cacos dispersos daquilo que foi 
Parte de mim e de ti.

Às vezes encontro
  Pedaços  de sonhos na poeira tênue
Que cobre meus passos de  tristes saudades.
Revolvo as lembranças na busca de mais.
Descobrir quem sou eu... 
Entender  quem tu és.

Às vezes padeço buscando respostas
Nas montanhas  distantes,
Nas águas do mar,
Nas estrelas brilhantes,
Na  dor que carrego em meu caminhar.

Inútil  buscar...
Pois respostas não há.


A BOLHA DE SABÃO

O menino com água e sabão
Encantava os meus olhos de poeta,
Na calçada  da rua inquieta.

Suas bolhas coloridas
Subiam
Cintilavam,
Bailavam na amplidão
E no ar  se desfaziam...
Beijos  na face de Deus.

Olhando as bolhas tão frágeis
Bailando no céu do  menino sonhador,
Pensei  nos sonhos  coloridos
Soprados em nós pelo Criador...

Quantas ilusões, bolhas coloridas,
Que brilhavam na aurora de nossas vidas
E se quedam silenciosas  e tristes
Quando  a noite  cai ofuscando o dia!

Quantos sonhos, bolhas  efêmeras,
Apenas tocados pelas agruras  humanas
Dissolvem-se no ar! Viram poeira!
Mas nunca deixamos de sonhar.

Vá,  menino,  flutuar...
Nas bolhas de sabão  do meu sonho a divagar.


MOSAICO


Segundos, minutos, horas...
Dias, meses, anos,
Medidas do tempo, medidas da vida.
Todos se encaixam , marcando o nosso tempo.
Sorrisos, lágrimas, saudades,
Pedaços da vida
Que é preciso unir.
Tristezas, dores, mágoas,
Fragmentos da vida
Que é preciso esquecer.
Muitas vezes sem querer
Vamos recolhendo...
Coisas sem fim.
São desenganos, são decepções
Sonhos desfeitos,
Mosaico formado na contramão...
Fitando o desenho percebemos a desarmonia
Daquilo que construímos  ao nosso redor.
O que fazer agora?
Desmanchar? Não  dá.
Refazer?  Nem  pensar.
O jeito é montar o mosaico da vida
Com risos e lágrimas...
Pois ele é o que é.
Nada mais!


HÁ QUE CAMINHAR...

O dia é longo...
A estrada é difícil...
A noite é sombria...
Há que caminhar.
Não se pode parar.
Parar enferruja, cria  artrite, chama a morte.
Nascemos para seguir,  passo a passo,  sem desanimar.
A vida pede passagem.
Há que caminhar...
Se há pedras  no caminho,
Se os  obstáculos são constantes,
Se as flores têm espinhos,
Que importa! Há  que caminhar...
Há que buscar. O horizonte nos espera.
Sejamos desbravadores de nós mesmos.
De nosso sonhos e anseios. Façamos a primavera.
Há que caminhar sem medo durante as estações da vida.
A noite vem, a sombra vai...
A tempestade segue , a bonança  desce...
E nós, peregrinos do amanhã,  deixaremos a semente.
Há que caminhar.
A vida se faz no presente.


EXPLORADOR

Explorador é quem explora a dor,
E segue, e vai, e parte.
Faz  acontecer.
Sua  sina é explorar.
Sem nada  temer.
O que  há de vir  virá.
Caminha. Navega. Voa.
O  horizonte o espera.
Quem o impedirá?
Explorador é quem amplia o mundo,
Vencendo limites e buscando respostas..
Aos  anseios profundos
Que traz em seu ser.
Explorador, explora a dor,  a dor,
Mas explora bem,
Senão  a dor  há de te explorar  também.

MAPA

Olhei o mapa da vida...
E me assustei.
Não encontrei o rumo.
Vi-me perdida, sem direção.

Meu mapa... Um emaranhado de linhas, desenhos e gráficos.
Ruas estreitas, bairros complexos, cidades confusas.
Eu divagando, buscando o fio... o fio da saída.

Olhei o mapa da vida...
Legenda a legenda.
Inútil! Confusão desvairada!
Cadê a estrada? Cadê  a ponte
Que há de me ligar do tudo ao nada?

Segui por uma rua estreita,
Alcancei um bairro complexo
E não encontrei a cidade perfeita.

Retornei ao ponto de partida.
E reiniciei minha vida.

Aprendi...
O mapa sou eu!
As linhas, os desenhos, legendas e gráficos são meus.
Se estão confusos, se estão imprecisos...
Eu fui o cartógrafo.


TRILHAS DA VIDA

Para que o homem não se perca...
É preciso trilhas.
Para  chegar ao destino...
É preciso trilhas.
Para  atingir os objetivos...
É preciso trilhas.
Trilhas  são  linhas seguras
Por onde aventurar o  coração
Trilhas são  caminhos construídos,
Que nos apontam a direção.
Homem sem trilha é homem perdido,
Homem sem trilha está  propenso a viver.
Sem luz, sem caminho, sem imaginação.
O pássaro emigrante conhece sua trilha.
O inseto  viajante sabe aonde chegar.
Até o salmão  encontra o mar e retorna ao rio.
Só o homem sem trilha não sabe por onde andar.

MÚSICA

Música no ar...
Melodia celestial...
Enleva -me, eleva-me
Perco-me em seus acordes
Vôo por seus ares
Descubro o transcendental.
Tenho sede   do infinito...
Tenho  sede desta luz que me fascina e me seduz.
Nesse momento tudo é tão pequeno...
Tudo é tão grandioso...
A vida,  a morte...  nada significam.
A escuridão, o medo... não existem.
A crise, a dor... mentiras do homem triste.
Só ela, a música existe, música celestial
Que me  tira deste mundo
E me  faz especial.

MEU AMOR

Meu amor é ternura, carinho,
Céu azul, areia dourada,
Onde  caminhamos sem medo
De mãos dadas pela estrada.

Meu amor é  berço, aconchego,
É  leito de rio, praia do mar,
Onde descansas teu corpo
E ficas inundado de estrelas.

Meu amor é  doçura, desejo,
Laço de fita, luz do luar.
Onde refazes  tuas forças
E  dormes coberto de amor.

Braços que te abraçam,
Lábios que te beijam,
Mãos que te acariciam.
Meu amor é acima de tudo
Um imenso desejo de paz.




BEM-TE-VI

Bem-te-vi passou por mim
Cantoria sem parar.
Bem-te-vi, bem-te-vi...
O que foi que você viu, bem-te-vi?

Viu, acaso, a minha dor, meu sorriso
e meu amor?
Viu, acaso,  minha esperança, a saudade
e as lembranças?
Viu, acaso, o sonho meu, vagando livre
ao me dizer adeus?

Ó que foi que você viu, bem-te-vi,
Pra cantar assim tão feliz?

Eu não sei o que você viu,
Mas de uma coisa tenho certeza...
O seu canto repetido
Despertou a natureza
Do meu verso tão sofrido,
Dando-lhe vida e beleza.

Cante, cante bem-te-vi...
Eu não sei o que você viu,
Mas bem sei o que eu vi.

POESIA


Hoje a poesia bateu a minha porta
Com um sorriso cativante
Um olhar contagiante
Pôs um verso em meu ser
E  consigo me levou.

Cobri meu corpo de nuvens
Vesti meu olhar de estrelas
Alimentei-me de aromas e cores
E dela  me tornei  refém.

Em cada gota de  chuva
Em cada pétala de flor
Achei um verso escondido
Clamando por meu amor.

Ah, poesia,
Sem ti não vivo um dia sequer.
Em tudo te vejo...
Em tudo te encontro...
Tu traduzes os meus desejos
E os meus sonhos de mulher.


QUESTIONAMENTOS

Questiono neste mundo... Suas dores...
Seus tributos... Seus horrores.
Não consigo entender seus eternos porquês.
Penso nas almas aflitas...  Sem luz, sem paz,
Que se agitam em busca de mais.
Penso nos corações aflitos, perdidos...
Por intensos sofrimentos perseguidos
E não consigo encontrar uma resposta.
Há cruzes muito pesadas...
Dilacerando...
Castigando...
A vida de muita gente sofrida.
Penso em Jaqueline... Ana...  Anita...
Nas muitas Marias da nossa história...
Todas sentindo no corpo e na alma,
O peso da dor imprópria
E a perda dos entes queridos.
É a ingratidão dos filhos,
É a violência dos maridos,
É a vida que sai dos trilhos.
Suas vidas se converteram
Num incansável derramamento de lágrimas.
Lágrimas amargas desestabilizando tudo.
Reflexões pesadas sobre sua identidade.
Desconhecendo seu verdadeiro mundo.
Reconheço que há muita gente esquecida,
Muita gente abandonada e ferida,
Sem qualquer perspectiva de vida.
E esse descobrir afeta minha segurança,
Porque mexe com as minhas crenças,
Travando-se em meu ser
Profundos e eternos questionamentos...
O que faz com que as coisas sejam assim?
Por que há tantas diferenças entre nós?
O que faz com que a dor,
Essa visita indesejável,
Se  faça assim  tão
Presente na vida de tanta gente?
Ignoro a resposta...
Ou  não me atrevo a responder.
Mas uma coisa é certa...
Esta resposta me angustia e me assusta.
Tenho medo de assumir parte da culpa...
E você?

 CONVERSO COMIGO

Converso  comigo quando o silêncio me acolhe.
Palavra que  gera  paz.
Verso vital que  me  cobre
De sons musicais.
Converso comigo e  me incendeio.
Viro faísca, fogo, 
Transformo em sonhos
Tudo  o que leio.
Converso  comigo e me acalmo.
As  palavras soltas voam
Pelo  céu da boca
E  voltam...
Banhadas de luz.

DEUS...

O coração se cala...
A alma desata
Qual cascata...
Levando consigo a poesia das águas.
O coração silencia...
O sonho  cria raízes,
Qual árvore
Entoando feliz a canção do vento.
Deus...
O Deus que procuro...
Encontro
Nas asas da borboleta,
Na brisa suave
Na pétala da flor
Na música que ouço
Quando a vida me sorri.
Convidando-me  a partir
Sem olhar pra trás.

Um comentário:

Leonir disse...

FÁTIMA:
ESTÁ SENDO MARAVILHOSO PARTICIPAR DESSE PROJETO COM VOCÊ!
OS ALUNOS ESTÃO ADORANDO!
PARABÉNS PELA DEDICAÇÃO E POR TER NOS DADO A OPORTUNIDADE DE CONHECER AS MARAVILHAS DA LITERATURA INFANTIL ESCRITAS PELOS AUTORES CATARINENSES.
UM ABRAÇO DAS TURMAS DOS 5ºs ANOS 1 E 3...E DA PROFª LEONIR!